quarta-feira, 30 de março de 2011

"Colorir" por Cynthia Gonçalves

Hoje trago para vocês um texto de uma grande amiga, que aos 31 anos, está tratando de um Câncer de Mama, felizmente diagnosticado precocemente. Seu depoimento é importante porque retrata o esforço de uma pessoa admirável, que decidiu lutar por sua vida e ser feliz, tendo a consciência de que apesar de não ser possível evitar a dor, seu desejo de viver e as lições que ela tem se permitido aprender, devem levá-la a uma jornada de autoconhecimento e grandes conquistas. Tenho certeza que sua história pode ajudar outras pessoas que enfretam o adoecimento por câncer e outras doenças graves. Agradeço a ela, por me permitir postar seu texto em meu blog.

Beijo grande!!


"Colorir" por Cynthia Gonçalves autora do Blog: http://hojesouassimepronto.blogspot.com/

Mais um dia no Cepro, onde começarei amanhã as vinte e cinco sessões de radioterapia que tenho pela frente... a grande maioria dos pacientes são idosos acompanhados de seus filhos sempre cuidadosos, que carregam no olhar uma mistura de amor, zelo, preocupação e esperança.

Por ser um tratamento longo, os pacientes e funcionários da clínica já se conhecem, brincam, trocam gentilezas e se chamam pelo primeiro nome. Como se fossem velhos amigos, na despedida é dita sempre a mesma frase: "até amanhã!".

Hoje fiz a simulação do tratamento e estou com a mama esquerda desenhada, riscos feitos para delimitar a região que será irradiada. Ainda deitada na mesa onde será realizada a radio, enquanto a equipe verificava medidas, fazia os tais riscos e desempenhava sua tarefa, eu fiquei ali pensando em minha vida. Ela passou em minha mente como um filme, desses baseados em fatos reais, capazes de ganhar facilmente o Oscar e emocionar a platéia.

Revivi a história de uma garotinha que logo cedo descobriu que a vida não era tão cor de rosa, mas que mesmo assim insistiu em pintá-la... insistiu em dar cor a tudo que estava cinza.

Entre os amigos, muitas vezes imaginários na infância, brincava no quintal de sua casa enquanto sua mãe trabalhava fora, criava seu mundo, seus sonhos e na fantasia de criança, afastava tudo de ruim que a vida trazia para ela.

Assim ela cresceu, aprendeu a cuidar dela, de sua mãe e de todos que ama. Aprendeu também a colorir a vida... nunca foi de dar trabalho para ninguém, muito geniosa é verdade, mas de bom coração.

Aprendeu a amar e foi amada, chorou e fez chorar... coisas inevitáveis do coração! Mas vale o que fica, vale saber amar, vale fazer a diferença na vida de todos que são importantes.

Sempre buscou uma saída para os problemas, limitações, medos e situações dificeis, mas nunca foi boa em perder pessoas. Até hoje não sabe lidar com as perdas, seja por morte, por opção ou destino.... a perda continua sendo um problema.

Com a aquarela e o pincel nas mãos ela traçou sua jornada, fez das cores sua defesa e alegria.

Não veio ao mundo para cruzar os braços e nem deixou que fizessem isso com ela, mas por um momento não conseguiu usar seu pincel, numa determinada situação a vida ficou cinza e triste... ela teria que enfrentar um de seus maiores medos, a perda. Teve medo de perder sua vida, sua mama, sua auto-estima, pois tudo estava em jogo.

Foi neste instante, que a tela de sua vida foi colorida por outras pessoas... o pincel estava nas mãos de pessoas que ela ama, dos profissionais que estão cuidando dela, de suas meninas de pêlo e principalmente nas mãos de Deus.

O jogo está ganho, o medo foi vencido e tudo está no lugar! Ela aprendeu que não precisa colorir tudo sozinha e que ajuda é sempre muito bem vinda. Afinal, é bom se sentir cuidada... e decidiu que é hora de retomar seu pincel e voltar a colorir sua vida.

terça-feira, 29 de março de 2011

Sobre Ciberbullying


O Ciberbullying tem características similares ao bullying; porém, neste caso os agressores se escondem atrás do anonimato, fazendo vítimas através de recursos virtuais. Os agressores são chamados de bullies cibernéticos. Agem por detrás de apelidos (nicknames) e/ou identidades falsas, utilizando-se de meios como: e-mails, blogs, fotoblogs, msn, skype, twitter, orkut, youtube, facebook, my space, formspring.me, torpedos (sms) e fotoshops. Cometem a agressão psicológica através da propagação de mentiras ou calúnias; boatos depreceativos; atitudes de manipulação e indução das vítimas ao suicídio; etc.

As vítimas podem sofrer intensa exclusão social, ridicularização pública ou ataques vexatórios. As agressões constantes provocam traumas, adoecimento e reações extremas de violência contra si mesmo (suicídio). O agressor (bullie) geralmente não tem rosto e por isso, dificilmente será reconhecido ou identificado pela vítima. Essa é a grande diferença entre o bullying e o ciberbullying.

Utilizando perfis falsos em sites de relacionamento ou e-mails, atacam através de conteúdos racistas, preconceituosos, sexistas; sempre com caráter excludente e depreceativo. Para isso, usam montagens constrangedoras; vídeos; comentários; materiais impressos; mensagens difamatórias e divulgação de imagens pessoais em sites de pornografia.

Já há alguns anos, atendi uma paciente jovem que relatou em seu processo terapêutico, ter vivenciado por volta dos seus 19 ou 20 anos, os ataques de um bullie cibernético. Naquela época, teve seu e-mail pessoal invadido pelo agressor, que enviou mensagens difamatórias para algumas pessoas de sua lista de contatos. Este bullie tinha conhecimento de dados pessoais, inclusive seu telefone residencial. Desta forma, ele entrava em sites de bate-papo, fazendo-se passar pela jovem, para seduzir homens e passar seu telefone para contato. A paciente começou a achar estranha as ligações, sempre procurando por uma pessoa com o mesmo nome e ela não conhecia nenhum dos homens que ligavam. Um dia, um deles ligou às 2 da madrugada, ela atendeu e a mesma coisa aconteceu, desta vez ela perguntou da onde ele conhecia a pessoa que procurava. Ele então falou que estava falando com ela através de uma sala de bate-papo e ao perceber a perplexidade da moça, falou que era então para ela ter cuidado porque a pessoa passou o seu número e falava de uma forma bastante provocadora e sexual. Minha paciente, não recuperou seu e-mail já que a senha foi trocada pelo agressor, mas conseguiu avisar as pessoas do que estava acontecendo. Foi até a polícia e fez B.O, para que não fosse responsabilizada, caso o agressor usasse de seu e-mail para práticas ilegais. Trocou o número de telefone residencial e desde então, perdeu a confiança em qualquer ferramenta e site da internet, mantendo apenas um e-mail para fins profissionais.

Mas nem sempre a história acaba ou se resolve sem muitos danos para a vítima. Nos tempos de hoje, é muito comum o desenvolvimento de relações de amizade e/ou amorosas via internet. Além disso, as pessoas deixam facilmente expostos dados pessoais, sem muita preocupação de ocultá-los ou protegê-los. Vou apresentá-los um breve relato, sobre um dos casos que evoluem para conseqüências mais graves e irreversíveis para a vítima de ciberbullying.

"Em 2006, na cidade de Ponta Grossa, no Paraná, o estudante de educação física Thiago Arruda, 19 anos, foi alvo de ataques, calúnias e injúrias pela web. Thiago foi difamado por uma comunidade do Orkut, cujo único propósito é fazer fofocas e intrigas sobre os moradores da cidade. O rapaz foi chamado de homossexual e pedófilo, e recebeu mensagens que diziam que pessoas como ele deveriam morrer e não poderiam conviver com a humanidade. Os boatos atravessaram as paredes virtuais, e Thiago acabou agredido e hostilizado pelas ruas da cidade. Em março de 2008, Thiago, não suportando mais as humilhações, deixou recados na internet dizendo que se mataria caso as acusações continuassem. Como resposta dos membros da própria comunidade, ele recebeu incentivos e orientações sobre a melhor forma de cometer suicídio. No dia seguinte, Thiago foi encontrado morto, dentro de um carro na garagem de sua casa. Ele colocou uma mangueira no cano de escapamento, entrou no veículo, fechou os vidros, ligou o motor e morreu asfixiado ao inalar monóxido de carbono. Alguns membros da comunidade foram identificados, mas ninguém foi preso. A comunidade está no ar até hoje, e continua a difamar e a hostilizar os moradores da região."

Sendo assim, é importante ter cuidado com as exposições de dados pessoais na web ou senhas de fácil acesso. Também é preciso ter cuidado com o grau de confiabilidade do que é dito pelas pessoas pela web. Além disso, os pais precisam ficar atentos ao comportamento de seus filhos, que podem ser vítimas e também, agressores. Silva (2010) nos adverte que, o tempo diário em que seus filhos permanecem "navegando" na web, pode ser um indicador. Durante este período, é necessário atenção a comportamentos como: xingamento, gargalhadas, choram ou ficam muito quietos; podem esconder a tela do computador na presença de alguém; evitam ir à escola; dormem demais; perda ou ganho de apetite; insônia e explosões de choro ou raiva. Caso identifique mudanças no comportamento de seus filhos, busquem orientação e avaliação profissional. Muitos agressores de mostram sedutores no início, querem envolver suas vítimas, para depois praticar a agressão. Lembrem-se de que o silêncio nesses casos, contribui para a manutenção e agravamento das agressões, trazendo seqüelas graves e irreversíveis.


Abraços fortes...

Fonte de pesquisa:

Livro "Mentes perigosas nas escolas: bullying" (Ana Beatriz Barbosa Silva). Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

domingo, 27 de março de 2011

Surpresa e Alegria

Surpresa!!!



Hoje já passei por aqui, deixando uma postagem, mas esqueci de agradecer aos visitantes e seguidores, por termos ultrapassado 6.000 visitas. Voltei agora ao Blog, para deixar o meu agradecimento e me deparo com o surpreendente número de 90 acessos só no dia de hoje! Estou sentindo um misto de surpresa e alegria! É claro que eu desejava ver o "Construindo Sentidos" ganhando forma e crescendo pouco a pouco, mas vivenciar seu crescimento é bem melhor do que imaginá-lo. Obrigada a todos pelas visitas, comentários e perguntas no Formspring.me. Me dedico a profissão de psicóloga com muito amor e seriedade. Acredito que um dia, o ser humano aprenderá a cuidar melhor de si mesmo, sem que para isso necessite adoecer. Acredito que a psicologia ainda colherá bons frutos do seu trabalho!


Beijo grande!!



"Tenho em mim todos os sonhos do mundo"


(Fernando Pessoa)

Ser diferente é normal

. .
Recebi este vídeo por e-mail, que muita gente já deve ter assistido como comercial de tv. Quando assisti pela primeira vez, gostei muito e fiquei pensando, no quanto nossa sociedade ainda hoje, é bastante resistente ao diferente.

E esse diferente pode assumir tantas formas! Buscando auto-afirmação, o indivíduo busca no outro identificação. O ser humano pode ser intolerante quando confrontado com o que lhe é diferente ou desconhecido. Em geral, para defender o seu ponto de vista ou modo de ser, muitas vezes se mostra reticente ou ainda, assume postura inversa e expressa reação contra, de recusa ou oposição.

É importante refletir a respeito desse assunto, pois o que frequentemente se observa é o contrário da empatia, ações discriminatórias ou de desvalorização deste outro que se mostra "tão diferente". E então eu lhes pergunto: existe outra pessoa igual a você? Similar significa semelhante, mas ainda assim diferente. Quanta intolerância se observa nas relações humanas com aquilo que se identifica no outro como diferente!

Atualmente ainda encontramos crianças seguindo modelos adultos de intolerância e discriminação pelo que se apresenta diferente. A busca pelo igual pode se apresentar em diversas nuances, no tipo físico; nas características da raça; na busca pela fé e religiosidade; condições sócio-econômicas, sexualidade; interesses pessoais, etc. Nas relações amorosas algumas pessoas buscam pelo parceiro com características semelhantes ou alguém diferente, que os complete. Será mesmo que somente as semelhanças ou diferenças ditam o sucesso de uma relação?

O vídeo fala de uma adolescente com síndrome de Down, que enfrenta as mesmas buscas e questionamentos de uma adolescente que não apresenta a síndrome. Essa menina se apresenta como ela é, dizendo para todos nós que devemos nos despir de pré-conceitos sobre as diferenças e aceitá-las como parte de todo ser humano. Ser normal é ser diferente!

Abraços fortes e uma ótima semana para todos...


"Não é que você seja diferente, mas é que ninguém consegue ser igual a você."

(William Shakespeare)

sábado, 26 de março de 2011

Morte e separação


"Vou contar uma estória de separação.
Toda separação é triste.
Ela guarda memória de tempos felizes
(ou de tempos que poderiam ter sido felizes...).
E nela mora a saudade."

(Rubem Alves)


Ontem quando cheguei a UTI Pediátrica do hospital onde trabalho, encontrei uma mãezinha desesperada que acabara de perder sua filha de 1 ano e 11 meses, que internou já em estado grave, no dia anterior a minha ida ao hospital. Logo depois chegou o pai, que tinha ido visitar sua filha, encontrando sua esposa em total desespero diante do falecimento da filha. Passei a manhã junto deles, acompanhei o pai quando foi ver sua filha e a mãe que não conseguia assimilar o que tinha ocorrido, negando a morte de sua menina, dizendo que todos mentiam e que levaria sua filha para casa. Fui testemunha da dor de uma família que não pôde se preparar para a perda, que ocorreu devido a um quadro agudo. Como é importante respeitar a dor e o tempo dos pais para assimilar e se despedir de seus filhos! Foi preciso que a equipe compreendesse a dor desses pais, para a remoção da criança acontecer somente depois dos pais e alguns familiares vê-la. Foi emocionante presenciar quando os pais pegaram sua menina nos braços e cantaram para ela a música que de tanto gostava. Cantamos juntos, os pais.. eu, a enfermeira e fisioterapeuta, cantamos e deixamos algumas lágrimas cairem. Todos nós enquanto cantávamos, sentíamos a perda ou separação, sentíamos pelo término dessa curta jornada. A música ainda retorna a minha cabeça, me lembrando uma menininha que só conheci através da fala e das fotos guardadas no celular dos pais e familiares. Ela que não será esquecida, nem pelos que a amam e nem por mim ou pelos outros profissionais que estavam neste mesmo plantão. A morte toca e transforma de formas diversas, a vida de quem a presencia. Para esta família e menininha, deixo um trecho da sua canção favorita.


"Te dou o meu coração
Queria dar o mundo
Luar do meu sertão
Seguindo no trem azul..."


Beijo no coração de todos...

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Esperança na Dor


Trabalho diariamente com pacientes em estado grave, fisicamente e emocionalmente. Observo após anos de profissão, que o sentimento de esperança precisa existir, mesmo quando o diagnóstico é incurável ou de difícil manejo.

Ter esperança é direito de todo ser humano, é também o que lhe permite seguir em frente e confrontar seu sofrimento, para então cuidá-lo. Falo em cuidar porque nem sempre é possível curar. Mesmo em casos graves, em que o paciente pode evoluir para óbito, não se pode tirar a esperança que ele ou seus familiares carregam. Sendo assim, é importante ajudá-los a lidar com as possibilidades sabendo da gravidade, para que mesmo não obtendo o que tando deseja, o indivíduo consiga através da sua esperança, realizar o que ainda lhe é possível.

Um paciente em cuidados paliativos por exemplo, pode ter a consciência da gravidade de sua doença e ainda assim, manter viva a sua esperança, que lhe permite continuar lutando para viver os dias que lhe restam, muitas vezes aumentando o tempo de vida. Em contrapartida, aquele que deixa de acreditar, pode entregar-se, vivenciando a piora da doença em pouquíssimo tempo.

Manter a esperança de alguém, não significa lhe dar falsas esperanças. Na realidade, sem esperança, a pessoa não enfrentaria o seu (s) sofrimento (s) diante de uma doença grave, para manter-se vivo e ao lado de quem ama. Uma pessoa sem esperança não luta e não vence nenhuma batalha na vida, mesmo a pessoa saudável. Desiste dos seus desejos ou sonhos e se entrega ao conformismo, passividade e depressão.

Todos os dias, seja no ambulatório, hospital ou no consultório particular, com pacientes e seus familiares, encontro exemplos de que viver e se manter vivo, pode ser uma luta diária. Segundo Niezsche, "quem tem porque viver suporta quase qualquer como.

Pacientes e familiares compartilham suas dores comigo, para que eu os ajude a continuar lutando. A esperança nem sempre atende aos nossos mais profundos desejos, mas ela SEMPRE nos fortalece. A esperança se mostra na dor, como um bálsamo que conforta e alivia o sofrimento, este que nem sempre conseguimos evitar.

Hoje vou compartilhar com vocês, algumas falas ou pedacinhos de esperança, de pessoas que vivenciam suas dores e mesmo assim, não desistem de lutar.

"Eu preciso acreditar que a doença pode ter cura, que existe algum remédio menos forte, com menos efeito colateral porque já tem 1 ano nesta luta, eu vou acreditar. A vida inteira eu fui assim, sempre acreditei que podia dar certo." (Paciente 1 - em cuidados paliativos há um ano).

"Eu vou conseguir, mas tá doendo muito, não passa. As pessoas dizem que passa, mas não passa. Eu quero conseguir, eu vou conseguir." (Paciente 2 - em cuidados paliativos, sofrendo uma desilusão amorosa).

"Com 75 anos, depois de 3 cirurgias, 1 ano e 3 meses de ostomizada; se eu não acreditasse, eu já não estaria aqui." (Paciente 3, paciente oncológica).

"Vai (fala o nome do filho) reage, você vai conseguir, vem que tá todo mundo te esperando, você vai conseguir, você foi tão esperado" (Familiar 1 - Pai de uma criança recém-nascida que durante o parto, quase morreu, neste momento encontra-se internada numa UTI Neonatal).

"Agora, depois de tudo que a gente já fez, ele vai desistir da luta? Não, eu acho que ele tinha que tomar os remédios (quimioterapia), se existe remédio, ele tem que tomar." (Familiar 2 - Filha e cuidadora).

Todos esses relatos, mostram pessoas que estão sendo cuidadas, para que consigam vivenciar suas dores, fortalecidas pela esperança, mas também compreendendo que nem sempre controlamos ou conseguimos tudo que se deseja. Porém, nenhum deles terá dentro de si, o sentimento de desistência e a dor de nunca ter tentado. Pensem em suas dificuldades e conflitos, e busquem ajuda psicológica se precisarem, principalmente se o momento de vocês hoje é de total desesperança e se a dor está tão forte que paralisa, comprometendo sua qualidade de vida e saúde.


Abraços fortes...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Excesso de Compaixão


Parece difícil de acreditar, mas é a pura verdade, excesso de compaixão pode causar adoecimento! Compaixão e empatia caminham juntas, em ambas o indivíduo demonstra reações emocionais e comportamentais que significam preocupação e cuidado com outrem.

A expressão de compaixão e empatia pode ser identificada quando o indivíduo se coloca no lugar do outro, imaginando o que o outro sente ou sentindo junto com ele. Costumo dizer aos meus pacientes que sofrem por "compaixão em excesso", que é importante encontrar um limite nesta relação de doação e cuidado com o outro. Senão o coração sobrecarregado, adoece junto com sua mente e corpo.

Aquele que esbanja cuidado para com outrem, pode se relacionar com as pessoas desta forma, por vários motivos. Geralmente são pessoas que não sabem dizer NÃO; ou que se doam demais porque nunca tiveram alguém que os orientasse ou cuidasse; algumas pessoas se doam demais porque desta forma se ocupam cuidando da dor de outra pessoa, deixando de pensar em sua própria dor; tem gente que não consegue pensar em si mesmo, antes de pensar no outro; outras pessoas "precisam" se manter sempre no controle das situações e por isso, assume a responsabilidade por resolver as coisas. Seja qual for o motivo, muitas pessoas estão cometendo excesso de compaixão pela necessidade de preencher um vazio existencial sem tamanho!

Muito cuidado! Esta forma de cuidado pode ser danosa para ambas as partes. Nas relações pessoais e profissionais, isso pode acontecer! Semana passada ministrei treinamento para profissionais da área da saúde/hospitalar, alguns profissionais relataram sofrimento emocional quando estão diante de pacientes em grande sofrimento. Me perguntaram como eu fazia para não me envolver. Respondi que se conseguimos compreender que a dor do outro não é nossa, quando fazemos o que está ao nosso alcance, sem que isso nos prejudique ou cause danos, ajudamos muito e não nos sentimos responsáveis por resolver nada. Acredito que na relação de ajuda, conseguimos fortalecer o outro que se mantém participando da resolução de seus conflitos ou dores, sem criar dependência emocional e sobrecarga para quem cuida.

É claro que sinto pela perda de meus pacientes quando algum falece ou quando o mesmo está vivenciando um grande sofrimento. Mas o autoconhecimento permite que o sujeito crie habilidades para distinguir o que é seu e o que é do outro. Precisa existir para uma relação de cuidado ou compaixão saudável, a separação ou consciência do EU e do OUTRO. Com compaixão e empatia dosadas, cuidamos sem assumir a dor como nossa. É assim na prática do psicólogo e de outros profissionais da saúde. Atenção aos ganhos pelo exercício da compaixão, como é gratificante ajudar o outro, podemos exceder sem perceber. É importante cuidar de quem precisa, mas sem deixar de cuidar de si mesmo. O resultado disso é uma relação de cuidado saudável, sem causar sofrimento para nenhum dos envolvidos.
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Abraços fortes...


"O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você."

(Mário Quintana)

sábado, 19 de março de 2011

Ausências


"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar."

(Rubem Alves)


Esta semana fiquei distante do Blog, trabalhei mais do que de costume e por isso, não pude mesmo passar por aqui. Confesso que senti saudades... sou da seguinte opinião, sentimos a ausência ou saudade, somente das pessoas, lugares, espaços ou coisas que amamos. Esta semana, eu me ausentei e senti saudades. Às vezes a saudade que surge pela falta de algo ou alguém importante, pode nos remeter a ausência do que nos faz falta. Aos nossos vazios...

Nesta semana atendi muitas pessoas que sofrem por ausências e vazios diversos. Este sofrimento pode existir pela ausência de si mesmo. E acontece quando o indivíduo deixa de realizar ou cuidar do que lhe interessa, muitas vezes se anulando. Muita gente tem se ausentado desta relação de cuidado consigo mesmo, deixando de lado os seus desejos ou realizações. Dessas ausências, o corpo e a mente sempre reclamam e clamam, por alguém que as ouçam.

São tantas as formas de se ausentar... no amor acontece muito. Costumo dizer que cuidar significa estar atento e ser generoso. Na ausência de si mesmo, dentro de uma relação amorosa, o sujeito se desvaloriza, tornando o outro um alguém mais forte e merecedor do seu amor. Com frequência, amores assim se transformam em afastamento e rompimento. Ou ainda, mantém pessoas unidas pelo comodismo, sem desejo e/ou busca pelo outro. Amores assim são tristes, aprisionam e deixam para trás a leveza e a alegria do encontro entre duas pessoas.

Nietzsche nos disse: "Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….” Já atendi e ainda atendo pessoas que investiram amor em relações amorosas e receberam em troca dor e decepção. Algumas descobriram ao longo da relação que o amor investido, nunca seria correspondido . Outras descobriram que após a conquista, pouco sobrou da pessoa que no início se mostrou tão interessada e disposta a construir uma relação. Razão e emoção entram em conflito, quando o sujeito vive um amor não correspondido. A dor da perda persiste, isso porque quem sente a dor de amar e não ser amado, sente pelo que tinha de melhor para oferecer e ainda assim, o outro não soube dar valor.

A única forma de obter respeito do outro é saber amar a si mesmo, não permitindo que se anule em função de um outro alguém. Ser flexível não é sinônimo de anulação. Estar próximo e atento as nossas reais necessidades, nos permite conhecer pessoas que se relacionam conosco agregando ao que é nosso, o que elas também tem de melhor. Pense nisso... se está sofrendo pela perda de alguém que não está ou nunca esteve ao seu lado, busque ajuda psicológica se necessário, para que se reencontre como uma pessoa capaz e merecedora de ser feliz, ao lado de quem verdadeiramente deseja amar e cuidar de você!!



Abraços fortes...


sábado, 12 de março de 2011

Separação de Pais para crianças e adolescentes


Ouvi de uma mãe, a respeito de sua separação e da mágoa que ainda sentia quando pensava em seu ex-marido, após 20 anos de separação... " existe ex-marido, mas nunca vai existir ex-mãe e ex-pai". Esta paciente após a separação, criou sozinha seu filho, pois o pai da criança manteve-se ausente. Infelizmente, cada vez mais observo crianças que após a separação de seus pais, vivenciam o abandono de uma das partes. Sendo mais frequente a ausência da figura paterna.

Observo que os conflitos relacionados a vida conjugal, que promoveram a separação, perduram na relação desses sujeitos como pai e mãe, sendo a criança a parte mais prejudicada. Em casos assim, a separação pode ser compreendida como um drama, um situação de crise, uma perda ou uma situação ameaçadora, ainda desconhecida.

Toda separação significa rompimento, sendo dolorosa para os filhos e para o casal. Dolorosa no sentido de que envolve diversas mudanças e adaptações. Em alguns casos, os conflitos conjugais permanecem após a separação, trazendo sofrimento para todos. E mesmo quando o casal está de acordo, a vivência da separação provoca um esforço para a adaptação à nova realidade. Quando se tem filhos, todos devem vivenciar a dor e angústia da separação.

A criança se espelha no adulto para enfrentar as dificuldades da vida, assim ocorre também durante um processo de separação conjugal. A solidão, o vazio existencial e a dor observada nos pais, é sentida e manifestada pela criança de formas diversas. Cada vez mais se verifica como causa de separações conjugais, a descoberta de relações extraconjugais. Entre outras causas, também se observa: a incompatibilidade descoberta no convívio diário de uma relação; a falta de investimento afetivo na relação que foi consumida pela rotina e conflitos diversos; dificuldades pessoais e de adaptação a vida de casados, resistências quanto a abrir mão da vida de solteiro; o casal que após o nascimento dos filhos, deixa de viver a relação de casal e com o tempo se afastam; amadurecimento emocional desigual do casal e/ou diferenças significativas nos ideais e planejamentos; interferência de pessoas e problemas externos; dificuldades financeiras; problemas de saúde física e emocional enfrentado por um dos cônjuges ou filhos; insegurança, desconfiança e excessivo ciúme do outro; ilusões e idealizações do parceiro, etc.

A criança sentirá a separação de acordo com a idade ou estágio do desenvolvimento. Em geral, a criança sofrerá emocionalmente com este processo e dificilmente sentirá alívio pelo término da relação. Com certeza, dependendo das reações dos pais à separação, quando a criança e adolescente presencia frequentes brigas e disputas envolvendo a guarda, pode sentir-se responsável pelo sofrimento dos pais e divórcio. Muitas vezes a criança reprime seus sentimentos e pensamentos, porque sente culpa ou medo de provocar mais discussões entre os pais.

Fato recorrente, é que a ausência da figura materna ou paterna, contribui para o surgimento do sentimento de abandono pós-divórcio. Reações emocionais observadas em crianças e adolescentes que vivem a separação de forma conflituosa: angústia de separação; sensação de desamparo, abandono e perda; medo; impotência; insegurança; tristeza; ansiedade; solidão; raiva e maior irritabilidade; alterações no apetite e sono; dificuldades escolares; rebeldia e agressividade; mudanças de comportamento, incluindo a tentativa de substituir o papel da figura de apego parental que foi perdida ou que está mais distante.

As mudanças necessárias são de ordem psicológica, social e financeira. Na prática clínica com crianças e adolescentes, principalmente diante das disputas de guarda dos filhos, verifico pais e mães transferindo pensamentos e sentimentos depreciativos para seus filhos sobre a conduta do ex-parceiro (a). Brigas judiciais são frequentes e atitudes de vingança ou competitividade, intensificam o sofrimento de todos os envolvidos, principalmente dos filhos.

É importante que pais e mães respeitem o sofrimento de seus filhos e os ajudem nesta vivência de perda e adaptação. Quando necessário, os responsáveis devem buscar ajuda psicológica para auxiliá-los, neste momento de intensos conflitos. Quando o sofrimento da criança ou adolescente é ignorado ou desvalorizado, quando a ajuda é negada, o sofrimento pode evoluir para adoecimento psíquico e físico. Além disso, a busca de aconselhamento psicológico para os pais que enfrentam também a adaptação de toda separação, contribui para a resolução de conflitos do relacionamento, fortalecendo o vínculo afetivo entre os envolvidos para o desenvolvimento de uma relação e convívio saudável.

Uma ótima semana para todos!!
Abraços fortes...




quinta-feira, 10 de março de 2011

Vazios e Projeções


"O inferno são os outros. Projetamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles, algo que amenize o vazio que nos habita."

(Sartre)

Hoje a postagem vai ser curtinha. Passo rapidinho só para fazer um convite a todos que se interessarem por refletir a respeito do que diz a frase acima em negrito.


O ser humano desde o nascimento vivencia diversas perdas.

Perdas reais e imaginárias, simbólicas e concretas... perdas.

Para cada perda é necessário um enlutamento e elaboração.

Assuntos adiados, não resolvidos ou não cuidados, geram sofrimento...
e muita dor.

Dor que se manifesta no corpo e na alma.

Que dilacera o Ser, fazendo surgir os incontáveis VAZIOS.

Vazio existencial, vazio afetivo, vazio de saudade, vazio de significado, vazio de sentimentos,

vazio de paz, de compreensão e cuidado...

Vazios...

Vazios incitam buscas, que levam geralmente ao preenchimento deste espaço que

emerge trazendo dor.

Vazios levam a projeções

e projeções são retratos de um dentro que se coloca fora, mas que na verdade nem sempre

é como parece ser...

Projeções podem ser perigosas, limitadoras e punitivas,

podem escravizar o Ser ou torná-lo dependente do outro.

Projeções podem ser positivas quando produzem empatia e respeito pelo sentir do outro,

depende do "bom ou mau" uso que se faz.

Projeções podem deixar pessoas infelizes pelo simples fato de que a busca pela felicidade

e por tudo que nos faz feliz, deve partir de dentro para fora e nem sempre de fora para dentro

Projeções... vazios...

Projeção pode favorecer o auto-conhecimento

Portanto, é importante permitir que o dono ou responsável

pela sua felicidade seja em primeiro lugar... VOCÊ

Não deixe que os vazios e projeções

transformem sua vida num verdadeiro inferno!

Verdadeiras histórias de amor que começam assim,

com projeções que cobram do outro a responsabilidade por sua total felicidade ou cuidado,

terminam em muita dor e ódio sincero.


Abraços fortes...

Formspring.me

Aos visitantes que através do Formspring.me, me fazem perguntas ou sugerem temas para a postagem no blog, informo que responderei a todos logo que possível e da mesma forma, publicarei sobre os temas sugeridos. Vocês já devem ter percebido que o número de postagens, varia de semana para semana, isso porque a correria de muito trabalho, nem sempre me permite estar aqui, tanto quanto eu gostaria. Agradeço a todos que frequentam o blog e aos que estão utilizando o Formspring.me... obrigada pelos comentários, perguntas e contribuições! Beijoss!!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Melancolia e existência humana


A melancolia pode ser compreendida no contexto do existir humano, como uma reação emocional diante de sofrimento(s). Como existência entende-se o percurso que o indivíduo constrói e vivencia a partir do seu nascimento, e que poderá sofrer influência pelo modo como a vida se apresenta, ou pelas relações desenvolvidas no início e ao longo da vida.

Segundo Camon, a melancolia através de seus aspectos existenciais se refere ao sofrimento emocional que retrata como o indivíduo se sente diante do que não viveu. Este sentimento de falta ou ausência, se refere a "dor psíquica" por determinada escolha ter aniquilado a vivência de outra. Ainda segundo o autor, a melancolia desperta arrependimento, culpa e até ressentimento.

Sartre afirma que "o homem está condenado a ser livre; e portanto, é responsável por tudo quanto fizer." A partir disso, podemos refletir a respeito do processo de viver e das incertezas que o desconhecido nos traz, do quanto é importante cada escolha realizada. Pois, cada decisão tomada significa algo que se perdeu e que talvez, não se recupere mais. Assim como cada segundo, minuto, hora, dia... de nossa existência, cada momento que se passou, não retorna mais.

E assim, é importante pensar no(s) porquê(s) e de que forma(s), o indivíduo realiza suas ESCOLHAS ao longo da vida! Certa vez, ouvi de uma paciente, que "viver bem é aprender a perder e ganhar ou a ganhar e perder." Novas possibilidades encerram antigas escolhas ou caminhos, muitas vezes trazendo soluções.

Diante de uma frustração, o ser humano se direciona para o que é idealizado como defesa ou proteção, se afasta e evita o que é real ... ou possível. A melancolia é a saudade do que não foi vivido. Para VOCÊ, o que significa isso?
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Atendi por um tempo, um rapaz que sofreu durante anos por um amor impossível. Toda relação amorosa POSSÍVEL ou REAL perdia o valor a partir do momento em que apareciam as dificuldades ou conflitos para serem resolvidos. O ser idealizado, pertencente à relação não vivida, sempre vencia na disputa com o ser real com quem este rapaz se relacionava. A disputa era cruel para sua namorada que competia com um ideal de mulher, a namorada que era humana perdia porque não beirava à perfeição. E como isso fez sofrer meu paciente e sua namorada!
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Pensem no tempo que se perde, vivendo e sofrendo pelo que ficou no passado e já não volta mais. Por diversas razões, o sujeito pode vivenciar a melancolia, este sentimento não se restringe a perda de um amor. Já atendi pessoas melancólicas que carregavam sofrimento e lacunas por não terem vivenciado sua infância ou adolescência, por motivos variados, era como se tivessem "saltado" estas fases da vida. Pelo emprego recusado, pelos sonhos adiados e não concretizados, pelos planos que não deram tão certo como se esperava... a melancolia aparece trazendo intenso sofrimento.
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Por isso, viva e cuide de todo ou qualquer sofrimento que exista dentro de você, que lhe impeça de seguir adiante. Se a felicidade do passado, real ou imaginária, provoca melancolia e afasta você de concretizar seus desejos ou vivenciar um presente e futuro de realizações concretas... PROCURE AJUDA PSICOLÓGICA e sinta-se feliz!!


Abraços fortes...


"Que a liberdade seja a nossa própria substância."

(Simone de Beauvoir)



terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher


"Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida,
removendo pedras e plantando flores."

(Cora Coralina)


Desde o ano de 1975, a ONU declarou o ANO INTERNACIONAL DA MULHER, mas somente em dezembro de 1977, as Nações Unidas adotou o DIA INTERNACIONAL DA MULHER para celebrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres. Sem dúvida, desde as primeiras manifestações na Rússia que marcaram a Revolução de 1917 em busca de melhores condições de trabalho e vida para as mulheres, as conquistas foram muitas. No entanto, ainda hoje este dia se faz necessário, não só para falar das vitórias, mas principalmente para lembrar que as discriminações e violência contra mulher continuam frequentes e que ainda existe MUITO o que mudar!

Parabéns mulheres pelo seu dia e que todos os outros dias do ano, sejam de luta e de vitórias! Nunca desista de NOVAS CONQUISTAS E ALEGRIAS! NÓS MERECEMOS!!


Abraços fortes...



segunda-feira, 7 de março de 2011

Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP)


O Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) se caracteriza pela ocorrência de episódios de ingestão de grande quantidade de alimentos em intervalos curtos de tempo. O indivíduo tem a sensação de perda de controle sobre o ato de comer, parando somente quando ocorre dor ou intenso desconforto abdominal. Em seguida do episódio de comer compulsivamente, o indivíduo sente angústia relacionada a ausência de comportamento para eliminar o excesso alimentar e culpa pelo ato de comer sem controle.

O TCAP aparece no Apêndice B do Manual Diagnóstico de Transtornos Psiquiátricos (DSM-IV) como nova categoria diagnóstica, para inclusão após pesquisas, pois esta categoria se difere dos transtornos alimentares como bulimia nervosa e anorexia. Esta nova categoria é denominada pela literatura internacional como "Binger Eating Desorder - BED", sendo atualmente considerado pelo DSM-IV como "Transtorno alimentar sem outra especificação."

O comer compulsivo ocorre também no quadro de bulimia nervosa, porém no TCAP a pessoa não tem o comportamento impulsivo de indução do vômito após a ingestão exagerada de alimentos. Vale ressaltar que o comer exageradamente não é o mesmo que comer um pouco a mais do que de costume. Alguns autores tem proposto a inclusão do TCAP na categoria de Transtorno obsessivo-compulsivo, pois existe a persistente preocupação quanto ao peso e o desejo de comer ocorre de forma incontrolável. A prevalência maior é na população obesa, cerca de 30%; porém na população em geral ocorre em torno de 1,5 %.

Uma variação é denominada como "Síndrome do Comer Noturno", classificada por Stunkar na década de 50, como transtorno alimentar-comportamental em que o indivíduo tem pouco apetite pela manhã, come excessivamente pela tarde ou à noite e sofre de insônia. O autor afirmava que o episódio de comer compulsivamente noturno é desencadeado por estresse, que ao ser aliviado, diminuiria consequentemente os sintomas da síndrome.

Muitos autores denominam como causas para o TCAP: predisposições genéticas, influências socioculturais e vulnerabilidades psicológicas pessoais. Quanto as predisposições genéticas consideramos histórico familiar de transtornos alimentares e de humor (transtornos depressivos e ansiosos); sobre os fatores socioculturais verificamos padrões de relacionamento no ambiente familiar e sociedade (extrema valorização da estética corporal, do corpo magro ou esbelto); e ainda, como características pessoais de vulnerabilidade emocional (baixa auto-estima, perfeccionismo, impulsividade e pensamentos ambivalentes de "ou tudo ou nada, de total controle ou total descontrole").

É importante que o TCAP seja criteriosamente diagnosticado porque existem alguns diagnósticos diferenciais, tais como: a bulimia nervosa e a depressão atípica. Além disso, quadros depressivos e ansiosos podem estar associados. A compulsão alimentar periódica pode contribuir para a ocorrência da obesidade mórbida, por isso são frequentes os estudos com a população obesa. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado por:

(1) ingestão, em um período limitado de tempo (por ex., dentro de um período de 2 horas) de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria durante um período similar e sob circunstâncias similares.
(2) um sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar durante o episódio (por ex., um sentimento de incapacidade de parar de comer ou de controlar o que ou quanto está comendo).

O tratamento para TCAP, de modo geral para todo transtorno alimentar e/ou psiquiátrico, deve envolver acompanhamento psiquiátrico e ação medicamentosa (com ínicio e término administrado pelo médico); intervenção psicológica e nutricional.

Este texto se baseia em artigos científicos extraídos da internet. Tenha cuidado ao consultar a internet porque são muitas as informações disponíveis nos sites de busca, porém nem todas as informações são verdadeiras. Em caso de dúvida, busque informação através da avaliação e orientação profissional.

Escrevi sobre o assunto à pedido de um visitante do blog que através do formspring.me, solicitou o texto para orientação. ESTE TEXTO NÃO SUBSTITUI uma avaliação clínica ou psicológica. Se você tem dúvidas ou suspeita de que sofre deste transtorno, busque um profissional da psiquiatria e psicologia, para que seja avaliado e conduzido ao tratamento. Lembrando que a ausência de cuidado, deve contribuir para o agravamento do quadro físico e emocional.

Abraços fortes...



Fontes de Pesquisa:
http://www.psiqweb.med.br
http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/atu1_07.htm