segunda-feira, 21 de março de 2011

Excesso de Compaixão


Parece difícil de acreditar, mas é a pura verdade, excesso de compaixão pode causar adoecimento! Compaixão e empatia caminham juntas, em ambas o indivíduo demonstra reações emocionais e comportamentais que significam preocupação e cuidado com outrem.

A expressão de compaixão e empatia pode ser identificada quando o indivíduo se coloca no lugar do outro, imaginando o que o outro sente ou sentindo junto com ele. Costumo dizer aos meus pacientes que sofrem por "compaixão em excesso", que é importante encontrar um limite nesta relação de doação e cuidado com o outro. Senão o coração sobrecarregado, adoece junto com sua mente e corpo.

Aquele que esbanja cuidado para com outrem, pode se relacionar com as pessoas desta forma, por vários motivos. Geralmente são pessoas que não sabem dizer NÃO; ou que se doam demais porque nunca tiveram alguém que os orientasse ou cuidasse; algumas pessoas se doam demais porque desta forma se ocupam cuidando da dor de outra pessoa, deixando de pensar em sua própria dor; tem gente que não consegue pensar em si mesmo, antes de pensar no outro; outras pessoas "precisam" se manter sempre no controle das situações e por isso, assume a responsabilidade por resolver as coisas. Seja qual for o motivo, muitas pessoas estão cometendo excesso de compaixão pela necessidade de preencher um vazio existencial sem tamanho!

Muito cuidado! Esta forma de cuidado pode ser danosa para ambas as partes. Nas relações pessoais e profissionais, isso pode acontecer! Semana passada ministrei treinamento para profissionais da área da saúde/hospitalar, alguns profissionais relataram sofrimento emocional quando estão diante de pacientes em grande sofrimento. Me perguntaram como eu fazia para não me envolver. Respondi que se conseguimos compreender que a dor do outro não é nossa, quando fazemos o que está ao nosso alcance, sem que isso nos prejudique ou cause danos, ajudamos muito e não nos sentimos responsáveis por resolver nada. Acredito que na relação de ajuda, conseguimos fortalecer o outro que se mantém participando da resolução de seus conflitos ou dores, sem criar dependência emocional e sobrecarga para quem cuida.

É claro que sinto pela perda de meus pacientes quando algum falece ou quando o mesmo está vivenciando um grande sofrimento. Mas o autoconhecimento permite que o sujeito crie habilidades para distinguir o que é seu e o que é do outro. Precisa existir para uma relação de cuidado ou compaixão saudável, a separação ou consciência do EU e do OUTRO. Com compaixão e empatia dosadas, cuidamos sem assumir a dor como nossa. É assim na prática do psicólogo e de outros profissionais da saúde. Atenção aos ganhos pelo exercício da compaixão, como é gratificante ajudar o outro, podemos exceder sem perceber. É importante cuidar de quem precisa, mas sem deixar de cuidar de si mesmo. O resultado disso é uma relação de cuidado saudável, sem causar sofrimento para nenhum dos envolvidos.
.
Abraços fortes...


"O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você."

(Mário Quintana)

2 comentários:

  1. poxa, eu sofro disso aí viu...
    e já identifiquei q no meu caso é uma enorme necessidade de estar no controle de tudo :(
    não quero ser assim!

    ResponderExcluir
  2. Fernanda, cuide-se! Muitas vezes o que precisamos para começar a nos cuidar, é identificar algo que não está nos fazendo bem ou passando dos "nossos" limites. Se sentir sempre responsável por resolver tudo, como eu disse, pode ser muito penoso. Você pode encontrar um novo caminho, para continuar cuidando, mas sem precisar controlar tudo. Obrigada por compartilhar seus sentimentos conosco.

    Um forte abraço!

    ResponderExcluir