sábado, 17 de setembro de 2011

Aspectos emocionais na relação entre paciente idoso e cuidador


O título desta postagem foi também título de uma aula que dei para um grupo de familiares cuidadores de pacientes idosos com Doença de Alzheimer (DA) e outras demências. Este grupo em particular está sempre variando em número de participantes, isso porque quem cuida de alguém com DA, vive uma rotina intensa de cuidados e nem sempre consegue participar de atividades "extras", como aquelas que dizem respeito a cuidar de si ou de outras pessoas, além do paciente com DA.

No próximo dia 21 de setembro, se comemora o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, isso porque com o crescimento mundial da população idosa, cada vez mais se verificam casos de pessoas com o diagnóstico desta que é a mais conhecida e recorrente demência que atinge pessoas com mais de 60 anos.

A Doença de Alzheimer é uma doença degenerativa e incurável, existem medicações para retardar o avanço progressivo da doença e sofrimento pelos sintomas, para controlar as mudanças ou distúrbios de comportamento e adiar o declínio cognitivo, garantindo melhor qualidade de vida para o idoso e seus familiares.

Quem cuida de um idoso demenciado ou frágil, aquele que por motivo de doença ou pelo progressivo envelhecimento, tornar-se cada vez mais dependente de cuidado, vive um processo intenso de sucessivas mudanças e perdas. Entre elas ocorrem as mudanças nos papéis familiares, muitas vezes quem cuidava é agora quem recebe cuidado ou quem nunca cuidou, agora necessita de alguém que se disponha a cuidar dele ou dela.

Além disso, cuidar de quem tem Doença de Alzheimer, devido aos sintomas e piora progressiva da doença que causa total dependência do outro; e ainda, pelas perdas emocionais na relação entre sujeito paciente e sujeito cuidador, este processo pode favorecer para a sobrecarga física e emocional do familiar cuidador. Por isso, sempre oriento que é importante que o cuidador divida a responsabilidade e o cuidado com outros familiares ou em último caso, com um cuidador profissional.

Quando preparo a aula para o grupo de familiares cuidadores, busco sempre formas diversas de representar esta relação não só para quem recebe o cuidado, mas principalmente para aquele que realiza. Geralmente no decorrer das aulas, vejo as cabecinhas ou comentários de quem SENTE e VIVE esta realidade.

Alguns se emocionam e contam suas experiências e seguimos nesta troca, eu no papel de quem orienta sobre a doença, sobre os cuidados necessários para o paciente e TAMBÉM, sobre a necessidade de cada um desses cuidadores manterem o autocuidado para que permaneçam saudáveis e em condições para cuidar de quem amam.

E eles que me trazem tanta riqueza de conhecimento, adquirido na prática diária da realização deste cuidado, nas tentativas e erros de quem NÃO ESCOLHEU ou NUNCA se imaginou neste papel, mas o aceitou e procura mais e mais condições de realizá-lo com amor e respeito ao doente.

Atendi anos atrás um paciente que apresentava sintomas semelhantes a um quadro de demência, mas veio para a terapia por causa de um quadro depressivo grave. Ele, com seus 80 anos, foi um daqueles pacientes que ao receberem alta, deixam saudades. Trabalhei entre outras coisas, para que ele e esposa buscassem uma avaliação com um médico geriatra, porque eu já desconfiava que podia haver algo de demência em seus sintomas e queixas.

Meses depois, encontrei com eles no corredor do ambulatório, ele me reconheceu e reconhece ainda hoje, mas sempre que me olha, sorri e pergunta da minha família e dos filhos que não tenho. Nas primeiras vezes, a esposa olhava pra mim e fazia disfarçadamente um sinal para me dizer que não ficasse chateada por ele esquecer ou confundir informações sobre mim. Eu sempre lhes sorrio de volta e pergunto se ele está se cuidando, ele diz que sim e ela visivelmente, sobrecarregada pelo cuidado dispensado, sempre me diz que um dia conseguirá ir ao grupo de cuidadores, mas "ainda não dá."

Escrevo esta postagem, para dizer aos cuidadores de pacientes com Doença de Alzheimer e idosos gravemente enfermos ou frágeis, que SE CUIDEM... quem cuida de si, cuida melhor de tudo e todos os que amam. 

Cuidar significa entre muitas coisas, ter Paciência; Atenção; Criatividade; Alegria; Proteção; Respeito; Amor; Carinho; Valorização; Escuta; Ajuda e Generosidade. Como cuidar tão bem de alguém, quando não se tem mais sáude e forças para isso?

 CUIDEM-SE ... alguns perdem até a noção de cuidados básicos consigo mesmo, já não sabem o que é dormir; se alimentar corretamente; tomar um banho gostoso e restaurador. Produzir bem-estar em nossas vidas é garantir que permanecemos vivos, mas com saúde!! Tudo que temos na vida de precioso, quando deixamos de cuidar, se perde. Com a nossa saúde é a mesma coisa, se não cuido de minha saúde física e emocional, perco e nem sempre consigo recuperá-la.

Para dúvidas.. estou à disposição, é só perguntar ou comentar sobre o assunto e falamos mais.

Estou distante faz um tempo do Construindo porque a correria e os compromissos atuais são muitos, mas estou sempre de volta... também me faz muito bem, estar por aqui com quem mais desejar, produzindo pensamentos, contando histórias verdadeiras de força e fé na vida e relações... construindo muitos e novos sentidos.

Beijo no coração e abraços fortes...

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