terça-feira, 5 de abril de 2011

A Pessoa Narcisista

(Caravaggio - Narciso na Ponte)

O tema surgiu a partir do atendimento de uma paciente que trouxe para a consulta, o seguinte questionamento: Por que eu deixei que ele fizesse isso comigo? A relação conjugal terminou após anos de sofrimento, anulação, perdas e decepções, sempre relacionadas ao comportamento narcisista do cônjuge.

Para que a relação durasse anos, foi necessário que ela se mantivesse passiva e literalmente vivesse a "serviço" de seu "companheiro". O resultado foi adoecimento emocional grave para a minha paciente e total descaso ou indiferença do marido. Não suportando mais, ela passou a questionar suas atitudes egoístas e o mesmo, percebendo que perdia o espaço onde sua vontade sempre reinava, buscou por outra mulher para satisfazer seus desejos, abandonando esposa e filhos.

Histórias como esta são recorrentes. Quantas mulheres e homens já não foram abandonados após anos e anos de submissão e anulação em favor do (a) parceiro (a)? Isso acontece também nas relações de amizade, familiares e até profissional.

A construção do sujeito narcisista se baseia na falta de maturidade emocional de indivíduos que não aprenderam a estabeler vínculos afetivos, vivendo somente em função de si mesmo e procurando quem faça o mesmo por eles. Os narcisistas não se relacionam através de troca ou compartilhamento. Desejam apenas receber do (a) parceiro (a) a satisfação de seus desejos e para isso, se aproximam de pessoas emocionalmente frágeis, dependentes ou excessivamente "boazinhas".

Quem se relaciona com o (a) nascisista refere que pode se mostrar frio e vazio quando contrariado; que são manipuladores e sedutores; que dificilmente assumem culpa pelos seus atos; são exigentes e controladores; podem ser agressivos, explosivos ou ter acessos de raiva; oscilam entre o comportamento manipulador e a indiferença. São pessoas que não se vêem tal como são. Sentem-se e falam de si como vítimas da vida ou de quem os contraria. Seus desejos são insaciáveis e podem se aproveitar da boa fé ou vulnerabilidade do outro.

Veja bem, já de criança se observa este comportamento. É importante que os pais ou responsáveis estejam atentos e introduzam limites na educação, orientando sobre valores e respeito para com o outro. A ausência dessas noções básicas de bom relacionamento, contribuem para o surgimento de pessoas que se relacionam com o outro, como se este fosse um objeto de sua atenção e satisfação.

O mito de Narciso tem origem na mitologia grega e significa auto-admirador, fala de um jovem que se apaixonou pela própria imagem. A pessoa narcisista fala de si como se fosse melhor do que os outros, olham somente para suas necessidades, tornando a dos outros insignificantes. Não aceitam críticas; constantemente se mostram negativos ou entediados; são presunçosos e extremistas, com características histriônicas; se concentram em agradar demais no trabalho ou no amor, desde que a recompensa seja adulação, fama, poder ou dinheiro.

Narcisismo não significa auto-estima elevada; pelo contrário, o comportamento do narcisista é justamente este para compensar a sua baixa auto-estima. Não se amam ou se aprovam, buscam na admiração e controle do outro, a valorização que lhes faltam.

Não estou dizendo que é impossível se relacionar com um indivíduo narcisista; porém, é importante estar consciente de que dificilmente esta pessoa irá se perceber com tais características e que seu equilíbrio emocional pode ser comprometido pela relação. Por isso, é necessário que os (as) parceiros (as) de pessoas narcisistas busquem o autoconhecimento e entendimento sobre fatores ou características pessoais que favorecem a ação dos sujeitos narcísicos, para que não sejam machucados ou adoeçam na vivência da relação.

Abraços fortes...

Um comentário:

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    Sou António Batalha, do Peregrino E Servo.

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