terça-feira, 29 de março de 2011

Sobre Ciberbullying


O Ciberbullying tem características similares ao bullying; porém, neste caso os agressores se escondem atrás do anonimato, fazendo vítimas através de recursos virtuais. Os agressores são chamados de bullies cibernéticos. Agem por detrás de apelidos (nicknames) e/ou identidades falsas, utilizando-se de meios como: e-mails, blogs, fotoblogs, msn, skype, twitter, orkut, youtube, facebook, my space, formspring.me, torpedos (sms) e fotoshops. Cometem a agressão psicológica através da propagação de mentiras ou calúnias; boatos depreceativos; atitudes de manipulação e indução das vítimas ao suicídio; etc.

As vítimas podem sofrer intensa exclusão social, ridicularização pública ou ataques vexatórios. As agressões constantes provocam traumas, adoecimento e reações extremas de violência contra si mesmo (suicídio). O agressor (bullie) geralmente não tem rosto e por isso, dificilmente será reconhecido ou identificado pela vítima. Essa é a grande diferença entre o bullying e o ciberbullying.

Utilizando perfis falsos em sites de relacionamento ou e-mails, atacam através de conteúdos racistas, preconceituosos, sexistas; sempre com caráter excludente e depreceativo. Para isso, usam montagens constrangedoras; vídeos; comentários; materiais impressos; mensagens difamatórias e divulgação de imagens pessoais em sites de pornografia.

Já há alguns anos, atendi uma paciente jovem que relatou em seu processo terapêutico, ter vivenciado por volta dos seus 19 ou 20 anos, os ataques de um bullie cibernético. Naquela época, teve seu e-mail pessoal invadido pelo agressor, que enviou mensagens difamatórias para algumas pessoas de sua lista de contatos. Este bullie tinha conhecimento de dados pessoais, inclusive seu telefone residencial. Desta forma, ele entrava em sites de bate-papo, fazendo-se passar pela jovem, para seduzir homens e passar seu telefone para contato. A paciente começou a achar estranha as ligações, sempre procurando por uma pessoa com o mesmo nome e ela não conhecia nenhum dos homens que ligavam. Um dia, um deles ligou às 2 da madrugada, ela atendeu e a mesma coisa aconteceu, desta vez ela perguntou da onde ele conhecia a pessoa que procurava. Ele então falou que estava falando com ela através de uma sala de bate-papo e ao perceber a perplexidade da moça, falou que era então para ela ter cuidado porque a pessoa passou o seu número e falava de uma forma bastante provocadora e sexual. Minha paciente, não recuperou seu e-mail já que a senha foi trocada pelo agressor, mas conseguiu avisar as pessoas do que estava acontecendo. Foi até a polícia e fez B.O, para que não fosse responsabilizada, caso o agressor usasse de seu e-mail para práticas ilegais. Trocou o número de telefone residencial e desde então, perdeu a confiança em qualquer ferramenta e site da internet, mantendo apenas um e-mail para fins profissionais.

Mas nem sempre a história acaba ou se resolve sem muitos danos para a vítima. Nos tempos de hoje, é muito comum o desenvolvimento de relações de amizade e/ou amorosas via internet. Além disso, as pessoas deixam facilmente expostos dados pessoais, sem muita preocupação de ocultá-los ou protegê-los. Vou apresentá-los um breve relato, sobre um dos casos que evoluem para conseqüências mais graves e irreversíveis para a vítima de ciberbullying.

"Em 2006, na cidade de Ponta Grossa, no Paraná, o estudante de educação física Thiago Arruda, 19 anos, foi alvo de ataques, calúnias e injúrias pela web. Thiago foi difamado por uma comunidade do Orkut, cujo único propósito é fazer fofocas e intrigas sobre os moradores da cidade. O rapaz foi chamado de homossexual e pedófilo, e recebeu mensagens que diziam que pessoas como ele deveriam morrer e não poderiam conviver com a humanidade. Os boatos atravessaram as paredes virtuais, e Thiago acabou agredido e hostilizado pelas ruas da cidade. Em março de 2008, Thiago, não suportando mais as humilhações, deixou recados na internet dizendo que se mataria caso as acusações continuassem. Como resposta dos membros da própria comunidade, ele recebeu incentivos e orientações sobre a melhor forma de cometer suicídio. No dia seguinte, Thiago foi encontrado morto, dentro de um carro na garagem de sua casa. Ele colocou uma mangueira no cano de escapamento, entrou no veículo, fechou os vidros, ligou o motor e morreu asfixiado ao inalar monóxido de carbono. Alguns membros da comunidade foram identificados, mas ninguém foi preso. A comunidade está no ar até hoje, e continua a difamar e a hostilizar os moradores da região."

Sendo assim, é importante ter cuidado com as exposições de dados pessoais na web ou senhas de fácil acesso. Também é preciso ter cuidado com o grau de confiabilidade do que é dito pelas pessoas pela web. Além disso, os pais precisam ficar atentos ao comportamento de seus filhos, que podem ser vítimas e também, agressores. Silva (2010) nos adverte que, o tempo diário em que seus filhos permanecem "navegando" na web, pode ser um indicador. Durante este período, é necessário atenção a comportamentos como: xingamento, gargalhadas, choram ou ficam muito quietos; podem esconder a tela do computador na presença de alguém; evitam ir à escola; dormem demais; perda ou ganho de apetite; insônia e explosões de choro ou raiva. Caso identifique mudanças no comportamento de seus filhos, busquem orientação e avaliação profissional. Muitos agressores de mostram sedutores no início, querem envolver suas vítimas, para depois praticar a agressão. Lembrem-se de que o silêncio nesses casos, contribui para a manutenção e agravamento das agressões, trazendo seqüelas graves e irreversíveis.


Abraços fortes...

Fonte de pesquisa:

Livro "Mentes perigosas nas escolas: bullying" (Ana Beatriz Barbosa Silva). Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

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