terça-feira, 3 de maio de 2011

Morte e Cuidados Paliativos: Momento de Despedidas



Hoje recebi no ambulatório, a filha de um paciente muito querido, que aos 80 anos, encontra-se em Cuidados Paliativos por um Câncer de pulmão com Metástase hepática. O paciente e sua filha estão há quase um ano e meio em acompanhamento psicológico. Juntos lutaram por uma sobrevida mais digna e qualidade de vida para o paciente.

 Este meu querido paciente, sempre carregou dentro de si, um desejo de viver grandioso e verdadeiro. Confesso que me entristeci quando vi sua filha chegando sozinha, me dizendo que ele já não conseguia vir ao ambulatório.

Eu sabia que este momento chegaria e que eu sentiria sua perda. Durante o tempo em que pude atendê-lo, recebi grandes ensinamentos. Um deles foi o de que não importa qual for a sua dificuldade, quando se tem o desejo de vencê-la, devemos SEMPRE tentar.

Estou triste por saber que ele está na fase terminal da doença, mas sei que ele conseguiu o que poucos conseguem. Ele resolveu suas pendências emocionais, conseguiu ter qualidade de vida apesar do adoecimento e tem a possibilidade de partir em paz.

Quanto a filha, consigo entender a ambivalência de sentimentos e a dor de perder alguém tão importante. Depois de acompanhá-lo durante sua luta e em todo sofrimento, esta filha contendo suas lágrimas, me disse que não quer vê-lo sofrer mais.

 Através do acompanhamento psicológico, paciente e filha se prepararam para a partida e estão neste momento despedindo-se, ambos sentem a perda. No último atendimento, o paciente falou a respeito de sua angústia de morte e do que desejava realizar, antes de morrer. Hoje sua filha, falou de seu sentimento de impotência e do desejo de dizer ao seu pai, algumas palavras e sentimentos guardados. A despedida ocorre para cada um a seu modo.

Neste momento é importante respeitar o indivíduo doente, perguntando a ele o que deseja e de que forma, você poderá ajudá-lo. Para ser generoso no cuidado de quem está partindo, é necessário perceber se você tem condições emocionais para estar ao seu lado. Mesmo existindo amor, nem sempre se consegue estar junto nesta hora.

 Já presenciei familiares que não aceitam a morte e cobram do paciente que ele continue lutando, mesmo quando não existe mais possibilidade curativa ou de prolongamento da vida. Outros familiares, demonstram-se desesperados, exigindo que o indivíduo doente aceite sua morte e nem sempre o paciente está preparado ou em condições para isso. Nestes casos, o paciente se nega a falar a respeito da doença ou iminência de morte. 

O acompanhamento psicológico para pacientes em Cuidados Paliativos e seus familiares ou cuidadores, é de extrema importância. Trabalhar com cuidados paliativos é cuidar de quem vive a dor, estando atento às particularidades de cada envolvido. É atender e acolher essas dificuldades para favorecer assim a desvinculação, para que o paciente vivencie a boa morte e para que o familiar se despeça, dizendo o que antes da iminência de morte, talvez nunca tenha sido permitido.

Muitas vezes não se consegue EVITAR a morte, mas desde que o paciente e cuidador se permitam, SEMPRE é possível CUIDAR para que a morte ocorra de forma digna e para que a família consiga enfrentar a perda. O acompanhamento psicológico previne processos de LUTOS que geram adoecimento para os enlutados e/ou lutos complicados (patológicos).

Já sinto saudades...

Abraços fortes...

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