quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lição de Vida


Comprei neste último fim de semana, mais um livro do queridíssimo Rubem Alves, na capa do livro está escrito assim: “Pessoas que gozam de saúde perfeita não criam nada. Se dependesse delas, o mundo seria uma mesmice chata. Por que haveriam de criar? A criação é fruto do sofrimento.”

Pessoas doentes do corpo e doentes da alma estão em busca do remédio para o seu sofrimento. Em cuidados paliativos falamos em intervenções terapêuticas, porém sem possibilidades curativas. Quem trabalha com o paciente que tem uma doença fora de possibilidades curativas, aprende a cada encontro ou atendimento, que apesar de todo o sofrimento e/ou dificuldade, sempre existe alguma possibilidade enquanto há vida.

Para o paciente gravemente enfermo, que sabe do seu diagnóstico incurável e recebe ajuda para enfrentar as dificuldades relacionadas ao possível término da vida, viver o tempo e a vida que lhe resta, passa a ser o grande sentido de sua existência. Quase que uma corrida contra o tempo, para se permitir realizações adiadas, para colocar no lugar o que ficou abandonado, para reparar o que em algum momento se quebrou (principalmente, vínculos e/ou relações de afeto).

Hoje, tive o privilégio de aprender um pouco mais sobre vida e morte, sobre os sentidos de existência e oportunidades de reparações ou ressignificações. Recebi no consultório, um familiar que no início do acompanhamento psicológico, chegou bastante confuso ou desorganizado emocionalmente, pois seu filho que acabara de casar, estava gravemente enfermo.

Aceitou ajuda psicológica porque desejava ter condições para ajudar sua família. Hoje, encontra-se ainda enfrentando junto de seus familiares, as dificuldades e incertezas que a doença impõe; porém, afirma que descobriu uma outra forma de olhar a si mesmo e as pessoas que tanto ama, com outros olhos... olhos de quem cuida e respeita os esforços e dificuldades do outro.

A união e o amor que sempre existiu, mas pouco se externava, hoje está visível aos olhos de quem quiser ver. Principalmente deste pai e de seus queridos familiares.

A doença é um desafio que continua sendo enfrentado. A vida é vivida e valorizada como nunca tinha sido antes. Essa é a grande lição de vida que este pai, trouxe hoje em seu atendimento. “Meus olhos não estão mais fixados na dor, o campo está mais amplo, hoje enxergo a vida e as pessoas que estão ao meu lado, dou muito mais valor.”

Nunca é tarde para viver melhor. Valorizar a vida é estar mais atento aos detalhes, é viver sem atropelar os sentimentos que surgem a partir da experiência dolorosa ou dos momentos de convivência com o outro e consigo mesmo.

2 comentários:

  1. Belo texto, me fez lembrar um trechinho de Pedro Juan Gutierrez, escritor cubano, que diz assim:

    (...) “Simplesmente viver. Sem pressões. Talvez com algum dia feliz. E reduzir as angústias. Isso é imprescindível: reduzir as angústias. Quem sabe seja só uma questão de mudar de ponto de vista. É preciso estar plenamente presente onde a gente se encontra, e não escapar sempre.”

    Por que a gente se esquece de ser feliz todos os dias, e só lembramos quando algo ruim acontece. Ou mesmo teimamos em valorizar os outros quando vemos a possibilidade de perdê-los. Como somos cruéis com a gente mesmo e com quem amamos...

    Beijos, flor!

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  2. Olá Camila, seja bem vinda! Obrigada pelo carinho e pela contribuição. Seus comentários serão sempre bem vindos!

    Concordo com a citação e também com o que você disse. Precisamos ter cuidado para não desperdiçar a vida, para cuidar melhor do que é precioso e buscar aquilo que nos deixa feliz.

    Nem sempre o castigo ou punição vem do outro. É como você disse, podemos ser cruéis com a gente mesmo.

    Bjo grande!

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